Um estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos mostrou que nos últimos 10 anos aumentou em 18% o número de crianças e adolescentes até 18 anos com algum tipo de alergia a alimentos. Os dados mostram que quatro em cada 100 crianças apresentam reação alérgica. “É um problema de saúde pública, dada a gravidade de alguns quadros e o comprometimento da qualidade de vida do paciente e seus familiares”, afirma a Dra. Lorena de Castro Diniz, especialista em Alergia e Imunologia pela USP.
Em crianças menores, leite de vaca, clara de ovo, soja, trigo e peixe são os principais vilões, à medida que passam a fazer parte do cardápio alimentar. Entre os sinais mais comuns de que algo não vai bem estão dor abdominal, urticária e manifestações respiratórias, como asma, rinite e falta de ar. “O diagnóstico da alergia alimentar deve ser bastante cuidadoso para se evitar a instituição desnecessária de dietas restritivas que possam afetar o crescimento pondero-estatural das crianças”, avalia a especialista. Quer saber mais? Confira entrevista completa com a profissional:
Qual a diferença entre alergia alimentar e intolerância alimentar?
A alergia alimentar é uma reação adversa aos alimentos, com envolvimento do sistema imunológico, o que não pode ser confundido com distúrbios metabólicos, como a intolerância à lactose, frutose ou sacarose. Estas últimas ocorrem devido à falta da enzima digestiva, não envolvendo o sistema imunológico.
Como é feito o diagnóstico?
Não existe uma “receita de bolo”, já que as manifestações clínicas são muito variadas e os sintomas podem ser imediatos ou tardios, tais como urticária, angioedema, chiado no peito, rinite, eczemas, diarreias, vômitos, engasgos frequentes, sangue nas fezes, constipação, perda ou o não ganho de peso esperado. O diagnóstico da alergia alimentar deve ser bastante cuidadoso para se evitar a instituição desnecessária de dietas restritivas. Assim, a avaliação clínica rigorosa, incluindo história, exame físico e, em alguns casos, complementar, com exames laboratoriais, realização de testes alérgicos e até mesmo testes de provocação oral, podem ser indicados. Nestes últimos, no caso de reações, pode haver necessidade de realizar endoscopia e biópsia do trato gastrointestinal.
Como tratar?
Os princípios do tratamento são a exclusão do alimento suspeito e seus derivados, além de uma orientação que envolva: o reconhecimento de uma crise alérgica e as principais medidas a serem adotadas na urgência; detecção e reconhecimento de nomes e sinônimos em rótulos e embalagens de diversos produtos e, finalmente, a introdução de substitutos que garantam a nutrição adequada da criança.
Quais são os alimentos mais frequentes causadores da alergia alimentar?
Em primeiro lugar no nosso país está o leite de vaca, seguido da clara e gema de ovo, soja, trigo, sementes oleaginosas, como amendoim, castanhas, gergelim, peixes e frutos do mar.
A alergia alimentar tem cura?
Todo alimento que ingerimos é considerado um “corpo estranho”, isto é, um antígeno, e, por isso, quando um antígeno alimentar entra em contato com o tecido linfoide intestinal, há reação imunológica, que poderá seguir dois caminhos: o da tolerância oral ou, infelizmente, o da sensibilização (alergia alimentar). Por sorte, a maioria das crianças segue o caminho da tolerância, após os dois anos de vida.
Existe prevenção em alergia alimentar?
Sim. Existem medidas que podem ser aplicadas em famílias de risco para o desenvolvimento de alergia, quando pelo menos um parente de primeiro grau (pai, mãe ou irmão) tenha doença alérgica confirmada. A adoção de dietas durante a gestação não se mostrou eficaz na prevenção do desenvolvimento de alergia alimentar ou outros tipos de alergia. O aleitamento materno apresenta incontestáveis benefícios nutricionais, imunológicos, psicológicos e há estudos que demonstram a prevenção quando este aleitamento ocorre num período mínimo de quatro a seis meses. Caso haja necessidade de complementação do aleitamento materno, prefere-se o uso de fórmulas hidrolisadas no lugar de fórmulas de leite de vaca e soja (este último tem o uso proibido antes do sexto mês de vida). Estudos atuais revelaram que o atraso na introdução de alimentos sólidos (ou complementares) não atua na prevenção do aparecimento da alergia alimentar.