Até o 6º mês de vida, a maioria dos bebês apresenta Refluxo Gastroesofágico fisiológico, o que é considerado normal pelos especialistas, porque ocorre principalmente por imaturidade do esfíncter esofágico. Nesse sentido, coincidindo com a introdução dos alimentos sólidos e a condição de uma postura corporal mais ereta, a doença tende a melhorar espontaneamente, sem gerar nenhum dano ao desenvolvimento normal da criança, não necessitando de tratamento medicamentoso, apenas medidas posturais e/ou dietéticas.
Por outro lado, a pediatra geral e gastropediatra Dra. Cristina Marino explica que se há outros sintomas recorrentes e associados, como regurgitações excessivas, irritabilidade, baixo ganho de peso, entre outros, o refluxo pode ser considerado patológico. Está na dúvida? Confira entrevista completa com a especialista:
O que é o Refluxo Gastroesofágico?
Refluxo é o termo usado quando o alimento que está no estômago volta até o esôfago, às vezes até a boca, podendo causar alguns sintomas que variam desde regurgitações recorrentes ate anemia e apneia.
Quando ele é considerado fisiológico?
A maioria dos bebês antes de 6 meses de idade apresenta Refluxo Gastroesofágico Fisiológico, ou seja, vomitam ou regurgitam, mas sem consequências para o seu desenvolvimento. À medida que se desenvolvem e começam a receber alimentos mais consistentes, principalmente após os 6 meses de idade, os sintomas melhoram.
E quando é patológico?
O Refluxo Gastroesofágico é considerado patológico quando os episódios de vômitos e regurgitações não melhoram depois dos 6 meses de vida, mesmo com alterações na postura e dieta. Nessa fase, a criança não ganha peso ou o perde e para de crescer e produz uma esofagite (inflamação do esôfago).
Além desses problemas, a criança apresenta sintomas como irritabilidade, choro persistente, dificuldade para dormir, recusa de alimentos ou complicações relacionadas ao nariz, ouvido, seios da face e garganta. Em casos mais graves, a criança pode apresentar uma apneia (parada respiratória) ou aspirar o próprio refluxo (chegar aos pulmões), progredindo para uma pneumonia aspirativa. Preste atenção se seu filho apresenta como sintoma chiado no peito.
Como é feito o diagnóstico da doença?
O diagnóstico é feito geralmente através de uma história clínica detalhada e observação dos sintomas explicados anteriormente. Alguns exames podem auxiliar no diagnóstico, como o Raio-X contrastado (EED) e Phmetria.
Como tratar o RGE fisiológico?
O RGE fisiológico deve ser tratado somente com medidas posturais e dietéticas. Deve-se ter alguns cuidados com o bebê que tem refluxo, como não o chacoalhar, principalmente após as mamadas, deixá-lo em posição ereta por aproximadamente 30 minutos após a mamada, fracionar a dieta, usar fórmulas espessadas na impossibilidade de leite materno e quando estiver deitado, mantê-lo com a cabeça mais elevada que o corpo.
Converse com o pediatra sobre a alimentação adequada para cada faixa etária. Deve-se evitar alimentos condimentados, refrigerantes, salgadinhos, frituras e guloseimas em geral. As frutas, com exceção das cítricas, estão liberadas.
E quais as medidas para a criança que tem RGE patológico? Há indicação cirúrgica?
Além das medidas adotadas para quem tem refluxo fisiológico, os casos mais sérios são tratados com medicação que auxiliam também no esvaziamento gástrico e neutralizam a acidez da substância do estômago. A indicação de cirurgia hoje é pequena, devido ao bom desempenho dos medicamentos e dos cuidados na vida diária.
Qual a importância do acompanhamento pediátrico em crianças que apresentam a doença?
É importante o acompanhamento ambulatorial regular com o pediatra, já que grande parte das crianças com refluxo patológico apresenta dificuldades para ganhar peso, é mais irritada, tem azia, halitose, engasgos, chiado no peito e tosse. Algumas podem até apresentar broncopneumonia por microaspiração, laringite, otite de repetição, laringite e apneia.
Fique atenta aos sintomas
• Regurgitações e vômitos frequentes;
• Os bebês não ganham peso e podem até perdê-lo;
• Inflamação da parede que reveste o esôfago, em função da acidez estomacal causando esofagite;
• Dificuldade para mamar;
• Irritabilidade;
• Choro excessivo;
• Sono agitado;
• Otites de repetição;
• Rouquidão devido à inflamação da laringe e episódios repetidos de chiado no peito;
• Pneumonia aspirativa, que é a entrada do alimento no pulmão, mais comum em crianças com problemas neurológicos;
• Numa fase mais grave e avançada, o bebê pode ter apneias, ou seja, parada momentânea da respiração, acompanhada de uma coloração arroxeada da pele e dos lábios.