Foi-se o tempo em que para iniciar os cuidados bucais dos bebês esperava-se os primeiros dentinhos apontarem. Atualmente, a recomendação da odontopediatria é que o acompanhamento comece ainda na gestação, para ir orientando a mãe sobre os hábitos de higiene bucais dela e do bebê. Se isso não for possível, o ideal é que os pais levem o bebê para uma consulta a partir do segundo ou terceiro mês de vida. Segundo a dentista especializada em odontopediatria, Dra. Liliane Narciso, o odontopediatra irá orientar os pais sobre higiene adequada, amamentação, mastigação, tipo de mamadeiras e chupetas, crescimento e desenvolvimento normal dos maxilares e da face, entre outras coisas.
Os cuidados bucais na infância são essenciais para se ter qualidade de vida e a família é fundamental para que os pequenos criem hábitos saudáveis. Os pais são os grandes exemplos das crianças. O sucesso dos programas preventivos em saúde bucal depende muito deles, os quais devem proporcionar a seus filhos higiene adequada e acompanhamento odontológico periódico. “É importante construir uma relação de confiança e cumplicidade entre crianças-odontopediatra-pais. Estabelecer um clima de serenidade e segurança torna o acompanhamento profissional mais proveitoso”, afirma a Dra. Liliane Narciso. A seguir, a especialista traz mais informações sobre o assunto:
Quando deve ser a primeira consulta ao odontopediatra?
Hoje, a odontopediatria está muito voltada para prevenção e mínima intervenção. Indica-se que a mãe deve procurar atendimento com um profissional especializado para orientá-la a se preparar já durante a gestação ou a partir do segundo, terceiro mês de vida do bebê. Durante a visita na gestação, a mãe é orientada quanto aos hábitos de higiene dela e do bebê ao nascer, e também no preparo da mama, uma vez que é fundamental para o desenvolvimento saudável do bebê.
De que forma o odontopediatra trabalhará com a criança?
O trabalho com a criança é realizado de forma mais preventiva possível, para evitar problemas futuros, como formação de cáries, por exemplo. Todo o tratamento é realizado de maneira lúdica.
Qual a importância da prevenção?
A prevenção garante saúde e qualidade de vida para a criança. É importante para criar laços de amizade e confiança entre o profissional e a criança. Permite ao odontopediatra fazer intervenções mínimas, fundamentais para manter a saúde bucal.
Quais os aspectos avaliados nas consultas preventivas?
Avaliamos a criança como um todo: desenvolvimento físico, cognitivo, motor; bem-estar físico e mental; hábitos alimentares; respiração; hábitos de higiene bucal e geral. Quando necessário, temos a oportunidade de detectar e encaminhar os pacientes para outros profissionais, como nutricionista, otorrino (no caso da respiração bucal), fonoaudióloga (reposicionamento lingual), fisioterapeuta (melhora da postura diretamente relacionada com má-oclusão), alergista (problemas respiratórios), pediatra, homeopata, gastro (refluxo causa desgaste dental e bruxismo), psicólogo (bruxismo, hábitos nocivos, como chupeta e sucção digital); ortodontista e ortopedista funcional dos maxilares. O odontopediatra não trabalha sozinho. E principalmente, criamos vínculos com a criança e família. Passamos a conhecer e participar do desenvolvimento dessa família. O consultório torna-se um lugar agradável e seguro para a criança. E isso é fundamental.
Como deve ser estabelecida a relação pais-odontopediatra-criança?
Deve ser uma relação de confiança e cumplicidade. Por isso, quanto mais cedo iniciar, maior a chance de termos os objetivos atingidos. Durante o período gestacional, sabemos que a mãe está muito aberta a mudanças e a novos hábitos. Está disposta a tudo para ter um bebê saudável. Por isso, é importante o acompanhamento desde a gestação, pois, assim, a mãe irá se familiarizando, o que torna mais fácil o relacionamento posterior com o bebê.
É importante a qualificação do odontopediatra?
É muito importante a qualificação do odontopediatra, assim como também toda a bagagem que o profissional tem como pessoa. Para trabalhar com criança, precisamos ter um amor genuíno e transparente. Nossas orientações ou omissões vão interferir diretamente na saúde e, consequentemente, na qualidade de vida dessa criança e família. Nossa obrigação é oferecer aos pacientes o que eles precisam e não o que sabemos. Optamos pela odontopediatria de mínima intervenção, mas temos também tecnologias de ponta, como as terapias de laser para prevenção de cáries, cicatrização de aftas, cirurgias e pós-traumas.
O que fazer quando a criança tem medo do dentista?
Devemos falar a verdade, conversar bastante, mostrar o que vai ser feito, tudo isso de maneira lúdica. O ambiente também deve ser atrativo, ajudando a criança a se sentir confiante e descontraída. A única maneira de conquistar o respeito e confiança da criança é falando a verdade e respeitando o tempo dela.
Com que frequência a criança deve visitar o odontopediatra?
Vai depender muito da necessidade individual de cada uma. Inicialmente, durante a formação de hábitos, sugerimos visitas trimestrais. Depois da dentição decídua completa, por volta de 3 anos, hábitos já instalados, criança e pais bem treinados, podemos espaçar um pouco mais, chegando a seis meses de intervalo.
Quais são os principais cuidados que os pais devem ter com a saúde bucal dos filhos?
Os principais cuidados são: amamentar, estimular a mastigação de alimentos fibrosos e secos, ensinar a escovação e uso de fio dental. É necessário ter cuidado com a oferta de sacarose em horários que a criança vai ficar sem escovar os dentes. Aproveito para alertar os pais quanto aos medicamentos infantis que, na sua grande maioria, são doces. É importante que os pais criem nos filhos hábitos saudáveis desde cedo.
Qual a importância da amamentação no desenvolvimento da arcada da criança?
A amamentação é fundamental para uma boa oclusão. Sabemos que mais de 90% dos bebês nascem com a mandíbula retraída. E só 1/3 desses bebês continuarão com essa característica aos 3 anos de idade. Isso se deve ao movimento realizado durante o período de aleitamento, feito pela mandíbula para ordenhar o seio materno. Além disso, a amamentação também estimula a respiração nasal.
A mastigação também é importante para o desenvolvimento da mandíbula do bebê?
Sim. Quando nascem os dentes, a criança já está apta a iniciar a mastigação. Deve-se estimular as crianças a mastigar alimentos secos e fibrosos. A mastigação adequada é fundamental para o desenvolvimento dos maxilares, moldando e estimulando os ossos da face, propiciando, assim, uma oclusão adequada. Os melhores preventivos para má-oclusão são, sem dúvida, o aleitamento materno e a mastigação.
Chupar chupeta ou dedo por tempo prolongado pode causar alguns problemas na formação da arcada dentária. Como o odontopediatra pode orientar os pais nessa situação?
Com certeza, tudo em excesso tem consequências negativas. Porém, o grande vilão é o dedo. É muito difícil para a criança se libertar da dependência do dedo. Além disso, tem a força digital contra o palato. Portanto, o ideal é que seja oferecido a chupeta quando se observar uma necessidade maior de sucção por parte da criança. Normalmente, ocorre em crianças que recebem aleitamento artificial, por meio da mamadeira. A chupeta somente deve ser oferecida para o bebê pegar no sono e nos momentos de estresse e nervosismo. E o uso deve ser retirado antes dos 3 anos de idade. Bem-indicada, a chupeta pode ser uma grande aliada.
Como o odontopediatra pode identificar a respiração oral?
O odontopediatra detecta muito cedo os problemas respiratórios, pelas consequências diretas com a formação dos maxilares. Por isso, a importância do acompanhamento periódico. Quanto mais cedo identificado o problema, mais fácil será o tratamento. Ao identificar a respiração oral, o odontopediatra encaminhará para tratamento com otorrino e irá intervir nos casos de maxilas atrésicas e mordidas cruzadas.