O crescimento é uma das características mais notáveis da infância. Quem nunca perguntou se seu filho está crescendo bem ou não o comparou a outras crianças? “Meu filho não cresce” é uma queixa frequente nos consultórios de endocrinopediatria, conforme testemunha a endocrinologista pediátrica Dra. Adriane de Andre Cardoso Demartini. “Sabendo como uma criança cresce desde a fase intrauterina até a adolescência, vemos quando o crescimento foi afetado, se a queixa dos pais procede e se é possível elucidar, minimizar ou até mesmo resolver o problema”, tranquiliza a especialista. Desvende o crescimento do seu filho em entrevista completa com a profissional:
Geralmente, como é o crescimento normal de uma criança?
No primeiro ano de vida do bebê, o crescimento é intenso. Ele cresce cerca de 15 cm no primeiro semestre e mais 10 cm no segundo e chega ao final do primeiro ano com o dobro ou o triplo do peso de nascimento. No segundo ano, a criança cresce cerca de 12 cm e, no terceiro ano, de 8 a 9 cm. Depois, o crescimento fica mais estável (5 - 6 cm/ano), até o início da puberdade, quando as meninas crescem entre 8 e 9 cm/ano e os meninos de 12 a 14 cm/ano. Algumas crianças crescem um pouco mais, outras um pouco menos, pois nunca são totalmente iguais. O adolescente crescerá enquanto suas cartilagens do crescimento não estiverem calcificadas, o que poderá ser verificado por meio da radiografia de mão e punho para idade óssea.
Como perceber se a criança está crescendo adequadamente?
Levando a criança ao pediatra em consultas de rotina, em que ele avaliará a curva e o ritmo de crescimento dela. Se seu filho estiver crescendo menos de 4 cm/ano durante a infância ou menos de 6 cm/ano na puberdade, o ideal é que um especialista seja consultado. Não espere chegar à puberdade para esclarecer suas dúvidas.
Além de hormônios e da genética, que fatores podem influenciar um crescimento saudável?
Uma vida saudável: alimentação balanceada, sono adequado, atividade física regular e não exaustiva e bom estado emocional.
Qual a melhor forma de acompanhar o crescimento infantil?
A curva de peso e altura é o “mapa” de como está a saúde do seu filho. Mudanças no canal de crescimento para cima ou para baixo merecem atenção. O potencial genético é avaliado, por meio do alvo estatural (média da altura dos pais mais 6,5 cm para meninos e menos 6,5 cm para meninas).
É possível prever quanto uma criança terá de altura quando adulta?
Sim, utilizando a altura atual, uma radiografia de mão e punho para idade óssea e tabelas específicas para esse fim. Mas como o nome diz, é apenas uma previsão.
Se um ou ambos os pais forem baixinhos, o filho também será?
Não necessariamente, pois a altura resulta de uma combinação de fatores genéticos, emocionais, hormonais e ambientais. Nunca deixe de investigar a baixa estatura de seu filho.
Quando a menina menstrua pela primeira vez, ela vai parar de crescer?
A primeira menstruação é sinal de que a puberdade e o estirão estão chegando ao fim. Em geral, as meninas crescem mais lentamente, entre 6 e 7 cm. Tudo depende do grau de amadurecimento ósseo.
O que pode provocar problemas de crescimento?
Qualquer doença pode afetar o crescimento: desnutrição, problemas respiratórios - como asma - , gastrointestinais - como a doença celíaca e alergia à proteína do leite de vaca -, cardíacos, endócrinos, renais, ósseos e síndromes genéticas. O uso frequente e contínuo de alguns medicamentos, como corticoides e o tabagismo e uso de drogas pela gestante também podem afetá-lo. As deficiências hormonais podem alterar o crescimento, mas são a minoria dos casos. As causas mais frequentes são baixa estatura familiar e retardo constitucional do crescimento e da puberdade.
Como é feito o diagnóstico de problemas do crescimento?
Uma história clínica completa, um bom exame físico e uma curva de crescimento são fundamentais. O médico solicitará o exame da idade óssea, se julgar necessário, e outros exames, conforme a suspeita clínica. Feito isso, parte-se para consulta especializada e avaliação hormonal.
O que fazer quando a criança não cresce bem?
Siga as orientações do pediatra. O objetivo é identificar um ou mais fatores que estejam interferindo no crescimento normal e criar condições para que a criança aproveite o máximo do seu potencial genético. O tratamento varia conforme a causa da baixa estatura e deve ser iniciado tão logo for feito o diagnóstico, pois quanto mais tarde, menor a possibilidade de se corrigir o problema.
É possível retomar o crescimento normal com o tratamento?
Geralmente, sim. Tratando adequadamente a doença de base, retoma-se o crescimento normal. Em alguns casos, se o problema já estiver instalado há muito tempo, o uso de hormônio do crescimento pode ser necessário para “recuperar o tempo perdido”.
Então, quando se indica o uso do hormônio de crescimento?
Nos casos de deficiência hormonal e em algumas síndromes genéticas e insuficiência renal crônica. Crianças nascidas pequenas e/ou prematuras e aquelas que não crescem bem e estão abaixo do esperado para o padrão genético, apesar de não apresentarem nenhum problema detectável, também podem ser beneficiadas. O tratamento é seguro se bem indicado e com as devidas precauções. Mas fica o alerta de que apenas a vontade de que seu filho seja mais alto não é decisiva para o uso de hormônio do crescimento.