Estresse tóxico: qual seu efeito sobre  as crianças?
O estresse é uma realidade da vida moderna! E nem as crianças têm escapado. A exposição a adversidades e a experiências negativas de forma intensa e prolongada tem trazido à tona o que os médicos chamam de estresse tóxico. O problema pode gerar danos irreversíveis ao desenvolvimento neuropsicomotor da criança, além de aumentar os riscos para doenças orgânicas ao longo dos anos. A visita periódica ao pediatra é um dos mecanismos de prevenção ao estresse tóxico, pois é ele quem dará as orientações adequadas para o desenvolvimento normal das crianças e atuará na detecção precoce e tratamento adequado da doença. Para entender o quadro, os pediatras Dra. Luciana Nabuth e Dr. Frederico Cintra concederam entrevista sobre o tema ao Manual da Mamãe. Confira:

 

 

O que caracteriza o estresse tóxico?

 

É um problema que afeta crianças de todas as classes sociais, quando há um nível de estresse superior a sua habilidade e maturidade de lidar com ele. Quando as experiências adversas são graves o suficiente para superar a capacidade de uma criança de lidar com os desafios, ou quando o fator estressante é de longa duração, frequente ou de forte intensidade, o estresse passa a ser considerado tóxico.

 

 

Quais são as adversidades que podem provocar o estresse tóxico?

 

As adversidades podem se originar de um contexto individual, social e/ou familiar. Os fatores relacionados ao indivíduo envolvem prematuridade, baixo peso e doenças; já os sociais estão ligados a pobreza, desnutrição, fome, agressão física, dificuldade de acesso à saúde e à educação; enquanto os familiares envolvem número de atividades e responsabilidades excessivas (“miniexecutivo”), famílias desestruturadas, problemas conjugais entre os pais.

 

 

Quais as consequências do estresse tóxico na infância no decorrer da vida adulta?

 

O indivíduo que foi exposto ao estresse tóxico na infância apresenta maior vulnerabilidade ao desencadeamento de doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes, doenças pulmonares, cardiopatias isquêmicas, acidentes vasculares cerebrais e doenças autoimunes. O risco aumenta de modo significativo também para a incidência de distúrbios neuropsiquiátricos e comportamentais e do desenvolvimento, tais como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo, além de maior risco a dependência química, autismo e transtorno de hiperatividade e déficit de atenção.

 

 

Como prevenir o estresse tóxico

 

A prevenção do estresse tóxico está diretamente ligada às rotinas da criança. Veja como agir diante das atividades infantis mais relevantes:

 

 

Acesso à tecnologia: o uso excessivo, precoce e não supervisionado de dispositivos eletrônicos tem causado prejuízos de ordens cognitiva, psíquica e física nas crianças. Recomenda-se que crianças abaixo de 2 anos não devam ser expostas de forma passiva às telas digitais. Para crianças entre 2 e 5 anos, o tempo de tela deve ser de 1 hora por dia com a supervisão do conteúdo acessado. Para os maiores de 6 anos e adolescentes, o tempo de tela não deve exceder 2 horas por dia a não ser em caso de trabalhos acadêmicos, estabelecendo intervalos de descanso e atividade física, restringindo o tempo de jogos online, uso de aplicativos e redes sociais.

 

 

Sono: para a criança dormir bem, sua rotina diária deve ser bem calculada, sem exageros de atividades extracurriculares, com prática de exercícios físicos preferencialmente à tarde e dinâmica familiar mais calma ao anoitecer, evitando brincadeiras excitatórias, muitos eventos sociais, discussões, cenas de novela e negligência. O horário de ir para cama não deve ultrapassar as 21h.

 

 

Leitura: a leitura estimula o desenvolvimento cerebral, melhora relacionamentos entre pais e filhos, favorece a linguagem e as habilidades sócio-emocionais. Ler em voz alta para os filhos é um dos mais efetivos caminhos para enriquecer e aprimorar a linguagem e o vocabulário em crianças pré-escolares. Lembre-se de escolher livros apropriados para a faixa etária da criança. E, claro, dê o exemplo! Mantenha ou adquira o hábito de leitura.

 

 

Brincadeira: as brincadeiras potencializam a capacidade de aprender, de criar e de se desenvolver fisicamente. Crianças ativas possuem maior autoestima que as inativas uma vez que apresentam redução dos sintomas de ansiedade e de depressão. Para que se extraia o máximo de benefícios do brincar, é importante que a criança não brinque somente com outras pessoas (adultos ou crianças), mas que também o faça individualmente. O momento da brincadeira deve ser usado também para se trabalhar questões do dia a dia da criança, inclusive temas de grande impacto negativo, como uma violência vivida pela criança ou outra situação traumática. Sempre reserve um tempo para brincar regularmente com seus filhos.

 

 

Alimentação: para que a criança encare a alimentação como rotina prazerosa, ela deve ter o controle das escolhas, das recusas e da quantidade do alimento. Nunca force a criança a comer e sim barganhe, caso contrário a refeição torna-se um campo de batalha e geralmente a criança vence.