Durante a gestação ocorrem diversas mudanças hormonais e metabólicas, e uma delas é o aumento da produção do hormônio lactogênio placentário, que pode não só prejudicar, como bloquear a ação da insulina materna, substância responsável pelo controle da quantidade de açúcar no sangue, o que permite que ele seja armazenado em excesso. “O que ocorre, então, na gestação é que seu corpo precisa produzir insulina extra para atender às necessidades do bebê e se seu organismo não conseguir fazer isso, você pode desenvolver diabetes gestacional. Normalmente, a doença tende a aparecer após o segundo trimestre de gestação e afeta cerca de 7% das mulheres. Uma vez feito o diagnóstico, este persiste até o final da gravidez”, afirma a médica pós-graduada em endocrinologia e metabologia, responsável pela área endocrinológica da Clínica de Especialidades Integrada, Dra Carolina Mantelli Borges. Confira entrevista a seguir com a especialista e saiba quem está no grupo de risco:
Quais são as mulheres mais propensas a desenvolver diabetes na gestação?
O risco aumenta em mulheres com o seguinte perfil: apresentar mais de 25 anos ao engravidar; já tiver tido diabetes gestacional antes; possuir histórico familiar de diabetes, ovários policísticos, hipertensão arterial ou líquido amniótico em excesso; já tiver dado à luz a um bebê com mais de quatro quilos; estiver acima do peso quando engravidar; possuir histórico de aborto espontâneo ou de causa indeterminada; e apresentar açúcar na urina (glicose).
Quais são os sintomas?
Geralmente, se a mãe não estiver com as taxas de açúcar no sangue muito elevadas, ela não apresentará sintomas ou irá apresentar sintomas leves, que, muitas vezes, podem até ser confundidos com os próprios sintomas da gestação, como: aumento da sede, aumento da micção, cansaço, mal-estar, fadiga, náuseas e vômitos, perda de peso (apesar do aumento do apetite), infecções frequentes (bexiga, vagina e pele) e visão borrada. Por isso, o acompanhamento com seu endocrinologista é fundamental para um diagnóstico preciso.
Como é feito o tratamento?
Na maioria das vezes é possível controlar as taxas de açúcar apenas com dieta e exercícios físicos (se não houver contraindicações), porém, em alguns casos, o uso de insulina é necessário. Trata-se de um tratamento seguro e eficaz que, ao contrário do que muitos pensam, não afeta a saúde da mãe ou do bebê. Tudo irá depender do grau do problema.
Como ocorre o diagnóstico?
Levando em consideração os riscos potenciais, é essencial que a gestante realize exames para checar a taxa de açúcar no sangue durante o pré-natal. Deve ser feito um rastreamento do diabetes entre a 24ª e a 28ª semanas de gestação. Aquelas que já fazem parte do grupo de risco devem fazer o teste de tolerância glicêmica antes, a partir da 12ª semana de gestação. Além disso, deve ser feito um controle alimentar específico para cada tipo metabólico. Dietas mal elaboradas ou com uma restrição calórica muito grande podem interferir no desenvolvimento do feto e no bem-estar da gestante. É ideal também que a mulher não ganhe muito peso, para não piorar ainda mais a situação.
Como deve ser feito o acompanhamento dessa gestante?
Uma vez feito o diagnóstico de diabetes gestacional, o acompanhamento da grávida deve ser feito de maneira rígida, com os cuidados adequados e sob observação frequente de um profissional capacitado e de confiança, para que tudo corra bem, tanto para a saúde da mãe quanto para a do bebê.
Existe alguma maneira de se prevenir?
Adotar um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada e a prática regular de alguma atividade física, não somente durante a gestação, mas como um hábito de vida, são estratégias de prevenção bem eficazes.
Quais são os riscos dessa doença para a mamãe e o bebê?
Cerca de dois terços do açúcar da mãe vai para o bebê e essa dose extra de glicose acaba sobrecarregando o pâncreas da criança que começa a produzir mais insulina. Estes níveis elevados de insulina irão interferir diretamente no desenvolvimento do feto, uma vez que este hormônio promove o crescimento de alguns órgãos e tecidos do corpo. Sendo assim, este bebê pode ter um tamanho bem acima da média (o que aumenta a incidência de cesariana). Além disso, esses bebês têm maior probabilidade de apresentar períodos de hipoglicemia durante os primeiros dias de vida. Já para a mãe, o diabetes gestacional pode estar associado à toxemia, uma condição da gravidez que provoca níveis de pressão muito altos, e que pode evoluir para a eclâmpsia, que apresenta elevado risco de mortalidade materno-fetal e parto prematuro.
A criança pode nascer diabética ou ter maior probabilidade de ser no futuro?
Pode-se dizer que sim! Já é constatado que esses bebês terão probabilidades muito maiores de desenvolver não só diabetes, como obesidade. Isso acontece pelo fato do pâncreas dele ter sido estimulado durante toda a gestação. Obviamente, outros fatores como estilo de vida e alimentação irão influenciar diretamente nesta probabilidade.
O diabetes gestacional desaparece após o parto? Isso demora aproximadamente quanto tempo?
Os altos níveis de glicose no sangue costumam se normalizar de três dias a uma semana após o nascimento do bebê, uma vez que a causa do problema (a gravidez em si) já não existe. Porém, todo o cuidado tido durante a gestação não deve parar por aí, pois essas pacientes possuem um grande risco de sofrerem a mesma situação em gestações futuras e grandes chances de tornarem-se diabéticas nos próximos cinco ou dez anos. A paciente deve ser observada com cuidado a cada consulta médica após o parto para que se possa identificar sinais de diabetes.