Não, não e não! Chega um momento em que esta palavrinha parece ser a única que seu filho aprendeu. Ele não quer tomar banho, recusa-se a sair do parquinho e rejeita a comida. A chamada “fase do não” ocorre, em geral, entre um ano e meio até cerca de quatro anos de idade. Mas não se irrite, este período é extremamente importante para o desenvolvimento da personalidade da criança, afirma a psicóloga Dra. Aline Santos Gobbi. Como, então, saber lidar com a criança nesta fase? Entenda tudo direitinho nesta entrevista com a especialista:Por que a criança passa pela “fase do não”?
Entre um e dois anos de idade a criança ouve muitos “nãos” de seus pais, nas inúmeras tentativas de experimentar o mundo. Com isso, acaba incorporando a palavra em seu repertório e, quando começa a se perceber como uma pessoa e quer mostrar suas vontades e opiniões próprias, inicia a “fase do não”. Este período é extremamente importante para o desenvolvimento da personalidade da criança.
Trata-se de um ciclo normal pelo qual toda criança deve passar? Por quê?
Toda criança passa pela “fase do não”, umas com mais intensidade e outras menos, mas todas elas experimentam esta etapa do desenvolvimento. Por ser algo comum do desenvolvimento maturacional de todo indivíduo e, portanto, fundamental ao desenvolvimento da personalidade da criança, nenhuma criança escapa disso e cabe aos pais saberem lidar com esta fase do desenvolvimento de seus filhos.
Como, então, os pais devem lidar com as crianças diante de tantas recusas?
Os pais precisam lidar com a “fase do não” com bastante paciência e consciência de que é algo temporário e não permanente. Entretanto, essas recusas do filho não devem ser encaradas com muita flexibilidade, pois as regras e limites ainda devem ser definidos pelos adultos. Diante disso, o interessante para os pais é a negociação com os filhos, explicando-se os motivos e racionalizando o processo. Muitos pais perdem a paciência e acabam impondo sua razão, ao invés de transmiti-la ao filho, o que é desgastante principalmente para o relacionamento entre eles e a criança.
É possível fazer as crianças mudarem de ideia sobre as rejeições? Quais as suas dicas?
Os pais precisam ter o hábito de conversar com seus filhos, mesmo que nesta idade ainda não compreendam integralmente o que está sendo dito, elas se sentem protegidas e percebem que os seus pais estão dizendo algo para o seu bem, o que acaba incentivando-os a ceder. O hábito de haver diálogo entre os membros da família deve começar desde cedo.
“Negociar” com a criança é uma saída?
É uma excelente saída. A negociação desde cedo facilita o desenvolvimento emocional e social da criança que, mais para a frente, precisará conviver em sociedade. Este é um excelente momento para negociar com seus filhos e fazê-los entender os motivos do que você está determinando.
Uma criança pode estar com fixação pelo “não” porque ouve isso a todo o momento dos adultos?
Devido ao fato de a criança ouvir muitos “nãos” de seus pais em sua experiência de “provar” o mundo, esta palavra acaba sendo incorporada em seu repertório. Esta reação da criança não deve ser encarada como uma afronta às vontades dos pais, sendo taxadas como “teimosas”, pois, na maioria das vezes, é apenas a forma que ela encontra de se expressar. Como forma de amenizar esta situação, os pais podem, ao invés de dizerem pura e simplesmente o “não”, explicarem os reais motivos e convencer seus filhos a concordarem com eles.
É preciso diminuir os “nãos” ditos a ela?
Os pais precisam ter a convicção de que quem dita as regras são eles e não os seus filhos. Atualmente, devido ao mercado de trabalho acelerado, os pais acabam passando o dia todo fora de casa e, por se sentirem culpados pela ausência, acabam cedendo a todas as suas vontades. Estas concessões constantes às vontades dos filhos não são saudáveis para o desenvolvimento da criança e, sim, os limites, porém estes devem ser feitos por meio de uma conversa, envolvendo negociação e racionalização, e não simplesmente uma recusa sem uma explicação agregada.
Quando essa “fase do não” pode se tornar uma preocupação para os pais, a ponto de necessitar de acompanhamento psicológico?
A “fase do não” é normal até cerca dos quatro anos de idade da criança. Quando esta fase se estende muito, chegando às crianças com cinco, seis anos, os pais devem buscar acompanhamento psicológico para seus filhos, pois estes podem estar tentando expressar suas vontades sem sucesso e podem ser ajudados a passar por essa fase sem maiores dificuldades.