Novos tratamentos para a alergia alimentar na infância
O único tratamento conhecido até pouco tempo atrás para as alergias alimentares era a restrição absoluta do alimento responsável pelos sintomas. Muitas vezes, essa é uma tarefa árdua para os pais, uma vez que vários dos antígenos mais prevalentes, como leite, ovo e trigo, estão presentes de modo constante na culinária habitual. A especialista em alergia e imunologia pela USP, Dra. Lorena de Castro Diniz, traz uma boa notícia para os pais, novos tratamentos para a alergia alimentar:

Alergia à proteína do leite de vaca (APLV): normalmente, resolve-se espontaneamente na maioria das crianças. No entanto, para a alergia persistente, a indução da tolerância oral pode ser uma opção de tratamento para alguns casos, em especial quando há risco de ingestão acidental e possibilidade de ocorrer reações graves. O conceito de indução de tolerância oral segue os mesmos princípios da imunoterapia (as vacinas para alergias) em outras doenças alérgicas.

Indução de tolerância com uso de alérgenos processados (baked): ao submeter o alimento a altas temperaturas, pode-se modificar a capacidade de ligação à IgE (aquela que pode gerar reações anafiláticas), portanto diminuir a sua capacidade de gerar reações em indivíduo alérgico. É uma técnica geralmente bem tolerada com menores taxas de reações, mas deve ser aplicada somente com orientação e supervisão médica.

Imunoterapia oral: indicada para aqueles casos de reações mais graves, com reações a mínimas quantidade dos alimentos. É realizada com a ingestão do alimento alergênico causador, em quantidades gradativas, iniciando-se com diluições extremas e gradualmente essas diluições vão diminuindo até se atingir o alimento “in natura”. O procedimento deve ser sempre realizado por equipe treinada e habilitada devido ao risco de reações.

Omalizumabe: trata-se de um anticorpo monoclonal humanizado, que foi explorado como tratamento adjuvante à indução de tolerância oral, com a vantagem de permitir, em algumas observações, dessensibilização mais rápida e mais segura para leite de vaca, amendoim ou múltiplos alimentos simultaneamente.

Ter essas alternativas de tratamentos das alergias alimentares representa um ganho imensurável, aponta a Dra. Lorena. A maior parte das alergias alimentares que acometem as crianças são transitórias, enquanto os adultos apresentam fenótipo de alergia persistente. Porém, a história natural da alergia alimentar vem sofrendo transformações. Além da prevalência de alergia alimentar estar aumentando, o tempo para o desenvolvimento de tolerância tem sido maior do que previamente descrito. Estima-se que a prevalência seja aproximadamente de 6% em menores de três anos, e de 3,5% em adultos

A especialista explica que a evolução da alergia alimentar depende de algumas variáveis, principalmente do tipo de alimento envolvido, das características do paciente, e do mecanismo imunológico responsável pelas manifestações clínicas.  Dentre os vários fatores associados ao risco de maior persistência da alergia alimentar, a alergista destaca: antecedente de reações graves, reações desencadeadas por mínimas quantidades do alimento, presença de comorbidades alérgicas e altos níveis de IgE específica para o alimento alergênico.