Meu filho não come, como devo agir?
A mamãe faz um aviãozinho, monta uma carinha divertida no prato, inventa histórias, usa toda a sua lábia, mas o pequeno se recusa a comer. O que fazer? A pediatra e nutróloga Dra. Denise Lellis explica que esse comportamento da criança é normal. “A partir de dois anos, a velocidade do ganho de peso e altura da criança se reduz e ela passa a comer menos. Essa redução alimentar é normal desde que o ganho de peso e altura se mantenham no ritmo certo”, enfatiza. Entretanto, é nessa fase que os pais precisam ser exemplos e ensinarem bons hábitos alimentares aos filhos. Confira mais sobre o assunto com a especialista:

 

Muitas mamães sofrem com os filhos que não querem comer. Quais são os motivos que causam a falta de apetite nos pequenos? Até quando isso é normal?

No primeiro ano de vida os bebês ganham peso e altura muito rápido. Todo esse crescimento exige um aporte nutricional grande. Nos primeiros meses de vida os bebês precisam de 100 a 120 kcal por quilo de peso. A partir de dois anos de vida, a velocidade do ganho de peso e altura da criança se reduz muito, então, ela passa a comer menos, respeitando suas necessidades nutricionais. Os pais estranham muito e erroneamente começam a achar que tem algo incorreto. Esta redução de aceitação alimentar é considerada normal, desde que o ganho de peso e altura do pequeno se mantenham no ritmo certo, cerca de cerca 2 kg e 6 cm por ano.

 

Como a mãe deve agir quando a criança recusa algum alimento?

As crianças têm a saciedade preservada, ou seja, comem somente quando estão com fome, ao contrário dos adultos, que comem por vários outros motivos e até mesmo apenas por hábito.   Quando introduzimos novos alimentos, é normal que a criança estranhe o primeiro contato. O melhor a fazer é respeitar a recusa inicial, ou seja, não forçar a criança a comer se não quiser, e oferecer novamente o novo alimento em outra ocasião. Algumas aceitam depois de mais de 15 tentativas! Forçar a criança, ameaçar ou negociar com ela não são os melhores caminhos.

 

Os alimentos devem ser introduzidos gradativamente na alimentação da criança para que ela aprenda a apreciar diferentes sabores?

Sim. A introdução de novos alimentos deve ser gradual, até para ficar mais fácil de detectar eventuais alergias. Fica mais fácil também reconhecer quais alimentos a criança realmente não gosta e quais ela recusa por outros motivos.

 

Pratos coloridos e divertidos podem ajudar a criança a comer melhor?

Sim, os pratos divertidos são um estímulo interessante, desde que não se tente “enganar” a criança com legumes escondidos, por exemplo. Incluir a criança no preparo da refeição, falar e brincar com ela sobre os alimentos são alternativas muito positivas, mas nenhuma delas substitui o exemplo dos pais. Fazer as refeições à mesa, de preferência com a TV desligada, e comer legumes e verduras na frente das crianças funciona melhor do qualquer prato divertido.

 

Em quais situações a mãe deve procurar tratamento para o filho comer bem?

Sempre que ela tiver dúvidas. Muitas vezes, uma simples conversa com o pediatra resolve todo o problema. O que acontece na prática é que a mãe tem uma expectativa diferente das necessidades da criança, ou seja, a mãe acha que a criança está comendo muito pouco e, na verdade, ela está comendo o suficiente para que cresça e ganhe peso normalmente. Muitas vezes, se aumentarmos as ofertas para esta criança, podemos piorar sua condição nutricional, causando sobrepeso e obesidade.

 

Atualmente é comum encontrar crianças acima do peso ou até mesmo obesas?

Dos anos sessenta para os dias de hoje, a incidência da obesidade triplicou entre os adolescentes e quadruplicou em crianças entre 6 e 11 anos. Estima-se atualmente que mais de 22 milhões de crianças abaixo de 5 anos, no mundo inteiro, estejam com sobrepeso ou obesidade.

 

Quais são as principais causas de obesidade infantil?

As mudanças comportamentais da sociedade são as causas mais importantes. Hoje, adultos e crianças passam horas na frente da TV, aumentaram o consumo de gorduras e carboidratos e pararam de gastar energia. O comportamento dos pais frente à própria alimentação e a dos filhos é o fator mais importante. E aqui voltamos à questão de respeitar a saciedade da criança. Forçar a criança pequena a comer mais do que precisa pode levá-la ao hábito de comer demais.

 

Como ensinar bons hábitos alimentares aos filhos:

• Converse sempre com a criança sobre a importância do consumo de alimentos variados para o crescimento saudável.

• Inclua, no início da refeição, uma porção pequena dos alimentos novos ou daqueles cuja aceitação é mais difícil, para que ela experimente.

• Coloque, diariamente, uma opção no prato (legumes ou verduras) para que a criança se familiarize com o alimento, mesmo que ela não coma. Muitas vezes a aceitação ao novo alimento poderá ocorrer somente após várias tentativas.

• Para crianças menores, apresente a refeição de forma lúdica: colorida, com desenhos, carinhas, sorrisos.

• Os pais são os principais exemplos. Portanto, é fundamental que a família inclua hábitos alimentares mais saudáveis.

• Não ofereça recompensas! Por exemplo: “se comer a salada, ganha um doce”. Esta estratégia pode tornar as verduras e legumes indesejáveis e o doce o alimento preferido da criança.

• Convide a criança a participar da elaboração das refeições: auxiliar na escolha dos ingredientes, no preparo da comida, ou na montagem do prato. As crianças normalmente se interessam pelo que preparam.