Dificuldade para começar a dormir, “lutar” contra o sono, acordar diversas vezes durante a noite, sono superficial e dormir menos horas do que o esperado para a idade são sinais de que a criança pode estar sofrendo de insônia. De acordo com a neuropediatra Dra. Marina Cardeal, em média, 35% das crianças apresentam insônia, dentre elas, mais de 95% têm como causa hábitos errôneos de sono. Outros motivos como cólicas, refluxo, intolerância ao leite de vaca, infecções, outros distúrbios de sono (roncos, apneias), distúrbios psiquiátricos e/ou psicológicos devem ser pesquisados. A neuropediatra explica que após o sexto mês espera-se que o bebê durma sozinho, em quarto escuro, espontaneamente. “O contrário requer procura de especialista para avaliar causas e orientar hábitos de sono”, avalia. Para saber mais, leia entrevista completa com a profissional:
O ritmo de sono da criança é igual ao do adulto?
O ritmo biológico do adulto é chamado circadiano, ciclo sono-vigília a cada 24 horas. Bebês têm ciclos curtos, a cada 3/4 horas, chamado ultradiano e que se modifica gradualmente após os três meses de idade, com aumento de horas noturnas de sono. Estímulos externos (luz-escuro, ruído-silêncio, horário e hábitos de sono) e integridade de estruturas neurológicas, como hipotálamo (manutenção do ritmo biológico), são essenciais para dormir com qualidade.
Quais os efeitos da insônia na saúde da criança e dos familiares?
A insônia que persiste até os cinco anos de idade pode provocar irritabilidade durante o dia e distúrbios de sono, como sonambulismo, terror noturno e medos de escuro, de barulhos e da ausência dos pais. Alterações de humor, dificuldade escolar, de relacionamento e até mesmo diminuição da altura estimada, devido à alteração de secreção do hormônio de crescimento (GH - Growth Hormon) durante o sono, são observados na fase escolar. Já os pais podem apresentar sentimentos de frustração, insegurança e, principalmente, cansaço físico e mental.
Como fazer para meu filho dormir bem?
Os bebês, desde as primeiras semanas, devem aprender a dormir sozinhos; adquirir este hábito a estímulos externos apropriados (berço, brinquedo de apego etc.). Rotina e segurança transmitidos pelos pais são fundamentais, lembrando que bebês compreendem entonações de voz/gestos mais do que o sentido em si das palavras. É fundamental que a criança aprenda a dormir sozinha, tenha rotinas e os hábitos de sono independam da presença dos pais, ou seja, os elementos que a criança associa ao sono não sejam “tirados” dele quando dormir, possibilitando melhora da insônia e suas consequências à saúde da criança e de seus pais.
Meu filho dorme nos meus braços, mas acorda logo que colocado no berço, o que devo fazer?
Associar sono ao braço da mãe requer a presença dela a todo despertar do filho, idem para estímulos como mamar, passear de carro, ninar. Ao dormir, a criança deve estar no seu quarto, sem luz, ainda acordada e com seu brinquedo de apego, que ficará no quarto. Segurança e despedida breve são indicadas, mesmo que ocorram choros inconsoláveis, idas ao quarto dos pais ou outros apelos. Aguardar alguns minutos antes de atendê-lo é prudente para não haver associação do “ato chorar” à presença e consolo dos pais. Após poucos minutos, ir ao quarto evita sensação de abandono, mas deve ser breve e reforçar o fato de que a criança aprenderá a dormir por conta própria. O tempo de ir “consolar” aumenta à medida que a criança desvincula a presença dos pais ao ato de dormir e se sente segura.
Não se deve fazer ao colocar seu filho para dormir
• Passear com carrinho;
• Cantar;
• Embalá-lo no berço ou no colo;
• Segurar a mão, acariciá-lo;
• Colocá-lo na cama dos pais,
• Fazê-lo dormir na sala e depois levá-lo ao quarto;
• Ficar do seu lado até ele adormecer;
• Alimentá-lo ou dar água quando acordar.
Opções para manter a criança dormindo sem a presença dos pais
• Estímulos externos que independam da presença dos pais (ursinho, mantinha...);
• Manter o ambiente calmo, escuro e seguro;
• Após despertares, deixar que a criança volte a dormir sozinha.