É comum os pais chegarem ao consultório do pediatra, principalmente ao que tem especialização em pneumologia, com um pré-diagnóstico de começo ou ameaça de pneumonia e catarro no peito, pedindo a receita do “milagroso” antibiótico. O pediatra e pneumologista pediátrico Dr. Thiago Caldi de Carvalho perdeu as contas de quantas vezes isso aconteceu com ele. Segundo o especialista, na maioria das vezes, esses casos pré-julgados como pneumonias são, na verdade, episódios de Infecção de Vias Aéreas Superiores (IVAS), os quais apresentam, por exemplo, um quadro de tosse prolongada. Para entender melhor essas diferenças e não fazer erradamente o seu próprio diagnóstico saiba mais detalhes em entrevista completa com o Dr. Thiago:
Como costuma ser o primeiro contato com as mães que chegam ao seu consultório com um pré-diagnóstico de pneumonia?
Nos primeiros momentos da consulta surgem os seguintes termos comumente utilizados neste diagnóstico: princípio ou ameaça de pneumonia e catarro no peito. E questiono: existe algum diagnóstico confirmado de pneumonia? Muitas vezes ouço que não, mas que invariavelmente sem o “milagroso” antibiótico, isso nunca melhoraria ou que este tratamento seria a única forma de evitar as temidas e perigosas pneumonias que levam à internação. Reitero que nenhum dos termos citados deve ser aceito no diagnóstico e início do tratamento com antibiótico.
Como é feito o diagnóstico de pneumonia?
Reforço sempre que existem apenas duas opções para o diagnóstico de pneumonia: examinar, o que é o mais importante e até posso dizer essencial, e, se necessário, a realização de exames complementares, como o Raio-X. A partir disso, poderemos dizer se é ou não pneumonia, para, assim, iniciar o tratamento adequado.
Como o senhor já afirmou, muitos desses casos podem ser na verdade uma Infecção de Vias Aéreas Superiores (IVAS). Isso é frequente na infância?
Na faixa entre os seis meses e cinco anos de idade, a criança pode apresentar de cinco a oito episódios de IVAS por ano. Sem contar que com o início da escola ou com a convivência com inúmeras pessoas este número pode aumentar consideravelmente e chegar a 12 episódios ao ano. Em resumo, podemos fazer uma simples conta: se a criança está na escola e pode apresentar 12 casos de IVAS ao ano e que cada um pode levar à uma tosse de dois a três dias ou até, pasmem, 30 dias de duração, vemos boquiabertos que seu filho pode tossir durante um ano inteiro.
É realmente impressionante. Isso tem a ver com baixa imunidade?
Absolutamente. Antes que os pais sonhem em dizer que os filhos são frágeis e têm imunidade “baixa”, lembrem-se que esses números são de crianças saudáveis e sem outras doenças coexistentes, mas é lógico que não podemos descartar sem exames apropriados, claro, alguma alteração do sistema imunológico concomitantemente às IVAS.
Nesse quadro, a tosse é o sintoma que mais incomoda. Basta um xarope para cuidar?
Sabemos o quão aflitivo é ver seu filho tossindo uma noite inteira ou não conseguindo alimentar-se, pois logo ao tossir ele perde tudo que foi ingerido. Mas a tosse protege as vias aéreas quanto à aspiração de secreções, corpo estranho e alimentos, além da eliminação das secreções produzidas. Ressalto que a tosse pode indicar, por exemplo, resfriado comum, gripe, pneumonia, sinusite, laringite, asma, refluxo, exposição a alérgenos e irritantes, entre outras situações. Partindo dessa premissa, deve-se sempre ter um diagnóstico correto e não apenas desejar um xarope para que suma a tosse, já que o uso incorreto de certos medicamentos pode inibir o lado bom da tosse e piorar ainda mais o quadro clínico da criança.
A vacina contra gripe é uma maneira de prevenir as IVAS?
Para o ano de 2015, foi liberada pela Anvisa a vacina tetravalente contra a gripe (no Brasil, até 2014 apenas era disponibilizada a vacina trivalente) e isso auxiliará sobremaneira na prevenção dessas infecções. Inicialmente, essa nova variedade de vacina não estará disponível nos serviços públicos e é indicada para crianças acima de três anos e adultos. Mas sua versão trivalente pode e deve ser aplicada em bebês acima de seis meses. Caso você tenha um recém-nascido, protegendo a si mesmo estará protegendo o bebê. Destaco também a aplicação em gestantes, mães que estão amamentando, idosos e pessoas com risco alto de apresentarem complicações da gripe.
A vacina da gripe causa gripe?
A vacina da gripe é incapaz de causar doença, pois é composta por vírus totalmente inativados.
E aquela famosa gripe logo em seguida, como explicar?
Isso pode ser explicado pela época em que recebemos a vacina ser coincidente com o período de início da presença destes vírus em nosso meio. Também é bom lembrar que apenas estaremos realmente protegidos após aproximadamente duas semanas da aplicação. Além disso, é preciso diferenciar gripe e resfriado já que a vacina visa a proteção ao vírus Influenza e não aos mais de 200 tipos de vírus causadores do resfriado comum.
Que outras vacinas são importantes ao se pensar na saúde respiratória?
Devem estar em dia também as seguintes vacinas: pneumocócica conjugada (Dez ou Trezevalente), haemophilus influenzae e coqueluche (ambas associadas a vacinas bacterianas). Mantenha o calendário vacinal sempre em dia e não deixe de fazer o acompanhamento de puericultura com o pediatra.