Mudanças sexuais na gestação e no pós-parto
A transformação do papel “mulher-amante” em “mãe-mulher-amante” está ligada às mudanças biológicas, psicológicas e inter-relacionais que marcam a gravidez e o pós-parto, que afetam – direta e indiretamente – a sexualidade. Esses momentos poderão gerar um aprofundamento da intimidade do casal, aumentar a cumplicidade ou poderão criar algumas dificuldades e afastamento. Entenda como essa fase pode ser vivida da melhor forma possível com a ginecologista e obstetra Dra. Gislayne Nunes de Souza:

Como lidar com as mudanças na vida sexual do casal durante a gestação e o pós-parto?

Nessa fase tão especial, o casal pode escolher tornar-se cada vez mais íntimo ou se afastar. Com a mulher, o que normalmente ocorre é o aumento da libido por sentir-se ainda mais feminina, principalmente a partir do segundo trimestre, no qual a vulva está mais sensível, devido a uma maior vascularização. Isso pode melhorar o desempenho sexual, tanto em querer um aumento na frequência quanto em uma facilidade maior para o orgasmo. Porém, algumas mulheres acabam por rejeitar a figura masculina ou até mesmo a sua própria sexualidade, pensando já ter cumprido a sua função de sedução para procriação, e logo enjoam do marido, do perfume, da voz. Já o homem, por descobrir que sua amante virou mãe, pode rejeitar a figura sensual da esposa. Associado a um instinto de proteção exacerbado, que coloca a esposa num lugar quase divino, há um afastamento. Por outro lado, caso o marido se sinta mais viril por ter gerado um filho, pode haver melhora do desempenho sexual. Sempre aconselho os casais a evitar estes sinais de afastamento, que nunca são saudáveis, e a aproveitar o que o momento traz de melhor. Conscientize-se do problema e dê a volta por cima!

Nos primeiros meses, a mulher tem seu desejo sexual diminuído, por conta dos enjoos, dor nos seios e cansaço?

Nem toda mulher enfrentará náuseas, vômitos ou dor nos seios nas 12 primeiras semanas. Entretanto, quando isso ocorre, uma dieta equilibrada, com refeições a cada 2 ou 3 horas, em pequenas porções, associada à diminuição do estresse, resolverão a maioria dos casos. Desde o início da gravidez, os hormônios femininos já estão a toda, o que promove o desenvolvimento mamário e aumento da vascularização da pelve. Assim, as mamas ficam mais viçosas e a vulva mais gordinha e lubrificada. Use estes pontos positivos a seu favor. A excitação ocorrerá mais rapidamente, assim como os orgasmos serão mais intensos. Aproveite!

Qual a importância do sexo nessa fase?

O sexo em qualquer fase melhora a autoestima, aproxima o casal, trazendo intimidade, segurança, restaurando os laços e alianças; gera comprometimento e cumplicidade. Além disso, melhora sintomas de mal-estar, dor de cabeça e náuseas. Ainda, libera hormônios que ajudam na redução do estresse e da ansiedade.

Muitos casais têm medo que a penetração possa machucar o bebê. Isso pode acontecer?

Não. O bebê se desenvolve dentro do útero, o qual é separado da vagina pelo cérvix (colo do útero). Há também o tampão mucoso nessa porção: um muco muito denso que sela qualquer comunicação entre a vagina e o útero, o que impede a passagem de microrganismos e secreções. Assim, o bebê fica distante do local onde a relação sexual acontece.

O sexo é capaz de fortalecer os músculos do períneo, que ajudam na hora do parto?

Sim! E não só na hora do parto, mas antes e depois também. O fortalecimento muscular é muito importante às pacientes que desejam o parto vaginal e isso pode também ser obtido com atividades físicas regulares, como a hidroginástica e o pilates.

Quanto tempo após o parto a mulher pode voltar a ter relações sexuais?

Normalmente, a recomendação é que aguarde os famosos 40 dias. Porém, há partos vaginais sem nenhuma laceração ou cortes. Nestes, a atividade pode ser retornada até em 20 dias. Tudo vai depender do conforto da paciente e do consenso do casal. No começo tudo deve ser feito com muito carinho e paciência. A relação sexual não precisa sempre da penetração vaginal. A criatividade nesta fase será uma boa companheira. Aumentar os estímulos e o uso de lubrificante são bem-vindos. Mais do que isso, muita brincadeira e diversão. Sexo é para ser divertido e não doloroso.

Em quais situações não é aconselhável sexo durante a gestação?

Somente quando indicado pelo médico. Há casos delicados, como em placenta prévia (localização da placenta indevida, em regiões próximas ao colo do útero), infecções, sangramentos e cirurgias, como a cerclagem. Mas quem vai definir mesmo quando está liberado ou não é o médico, analisando cada caso.

Quais são as alterações que a vagina pode sofrer após o parto? Em quais casos é indicada a cirurgia plástica para corrigir?

O que ocorre é que, de acordo com o tipo de parto, tamanho do bebê, lacerações ou a correção de cortes realizados, em alguns casos, poderá haver um risco maior para bexiga baixa, incontinência urinária ou distorções na anatomia do canal vaginal e vulva. Alguns dos sintomas referidos pelas pacientes serão vagina mais larga, peso ou bola no canal vaginal, perda de urina quando tosse ou espirra, entrada de ar na vagina durante o coito ou barulho excessivo na relação sexual. Nestes casos, na maioria das vezes, correção cirúrgica será necessária.