É possível tratar miomas sem cirurgia?
Imagine não poder sair de casa durante o período menstrual, tamanho o volume do sangramento e a dor da cólica. Estima-se que cerca de 50% das mulheres possuam alguma forma de miomas. Apesar de a grande maioria não apresentar qualquer sintoma, cerca de 18% destas podem apresentar sintomatologia que altera em muito sua qualidade de vida. Para preservar o útero e possibilitar que a mulher engravide com segurança após o tratamento, o método mais indicado é a embolização de artérias uterinas, um procedimento minimamente invasivo, que consiste em bloquear os vasos sanguíneos que nutrem o tumor. Sem irrigação, o mioma diminui e o útero é preservado. Em entrevista ao Manual da Mamãe, o especialista em Radiologia Vascular Intervencionista Dr. Alexander Corvello explica como a técnica funciona. Confira:

 

Como funciona a técnica de embolização de miomas?

 

Todo o procedimento é realizado por um pequeno furinho de 5 milímetros na pele abaixo da virilha por onde é inserido um cateter, que é, então, guiado para dentro das artérias uterinas. Uma vez localizadas as artérias uterinas introduzimos um microcateter no interior das mesmas e, então, realizamos a injeção de pequenas esferas que serão direcionadas para o interior dos miomas, obstruindo sua irrigação. Sem alimentação, estes miomas morrem. Tratamos todos os miomas existentes ao mesmo tempo, não sendo necessário, na grande maioria das vezes, outro procedimento. Ao final do processo realiza-se a retirada do cateter introduzido pela virilha e faz-se curativo sem necessidades de pontos cirúrgicos. A paciente permanece no hospital em quarto por apenas 24 a 48 horas, pois este é um procedimento minimamente invasivo.

 

Essas partículas injetadas podem provocar rejeição?

 

As partículas injetadas são feitas de material totalmente compatível com nosso organismo, não tendo possibilidade de rejeição pelo nosso corpo e tampouco existe a chance de elas se deslocarem e irem para outros órgãos.  A escolha correta do tamanho dessas partículas faz com que apenas os vasos sanguíneos que levam o sangue para os miomas sejam afetados, preservando, assim, a circulação uterina e o útero propriamente dito.

 

Como é a recuperação?

 

Pelo procedimento em si essas pacientes ficariam em observação por apenas 8 horas e poderiam ir para suas casas por não ser uma cirurgia aberta convencional. Mas pelo fato dessas pacientes poderem desenvolver cólicas nas primeiras 24 a 36 horas após o procedimento, elas permanecem em quarto de hospital neste período. Não se aguarda a paciente ter qualquer cólica para ser medicada. Ao contrário, faz-se medicação para que a paciente não sinta qualquer dor neste período. Após a alta do hospital as pacientes já podem retornar às suas atividades do cotidiano imediatamente e às atividades mais pesadas, como academia, por exemplo, em sete dias.

 

As mulheres ficam satisfeitas com o resultado?

 

O grau de satisfação das pacientes é muito alto, pois além de ser um procedimento não cirúrgico e, por causa disso, o retorno às atividades ser mais rápido, temos que considerar que os sintomas causados pelos miomas são muito desagradáveis e tiram a qualidade de vida destas pacientes, quer seja em seu ambiente pessoal ou profissional. E a resolução completa desses sintomas com procedimento menos invasivo sem dúvida traz satisfação.

 

Como o senhor avalia os resultados?

 

Os resultados são realmente animadores uma vez dentro das indicações desta técnica. Por isso, é importante que a paciente procure o Radiologista Intervencionista e o Ginecologista para avaliação. A literatura médica demonstra índices de sucesso no tratamento do mioma uterino por Embolização em 89 a 92% dos casos e índices de complicações entre 0,5 e 1,2. Esta é uma técnica muito bem estabelecida, se encontra no Rol de Procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS) e, portanto, sua cobertura pelos planos de saúde é obrigatória. Também é considerada como Evidência Científica “A”, a mais alta existente pela Sociedade Americana de Ginecologia e Obstetrícia, Sociedade Americana de Intervenção e Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular - SoBRICE.

 

O radiologista intervencionista substitui o ginecologista neste tratamento?

 

Não. Assim como a maioria dos tratamentos hoje em dia, a Miomatose Uterina é um tratamento multidisciplinar e a Embolização Uterina para miomas uma de suas armas. Não existe um tratamento único para todos os casos, mas sim o melhor tratamento para cada caso. Assim sendo, as consultas médicas com o Radiologista Intervencionista, que é o médico habilitado para realizar Embolização, e com o Ginecologista, que é o médico habilitado para realizar tratamentos cirúrgicos, devem ser procuradas. A saber, existem três classes de tratamento para miomas: o medicamentoso, o cirúrgico e o por cateterismo (conhecido como percutâneo). Cada um com seu propósito.